10/09/2021

Coisa de Comunista...

Minha amiga Milla Benício, acaba de lançar um espaço para reflexão de coisas várias. Dotada de um humor incomum, professora brilhante, autora singular, eu tenho certeza que será um sucesso e que, além de boa diversão, estimulará muita reflexão.

Fica a dica aos amigos e frequentadores ocasionais deste canal: leiam


 Coisa de Comunista.

09/09/2021

♦ Azul Furtivo

♦ Tenho uma santa inveja de quem sabe de cor e salteado mil nomes de cores. Sou um analfabeto funcional no que diz respeito a elas. Até já peguei o “Trem das Cores”, do Caetano, mas, não faço idéia do que está falando e continuo analfabeto. Não falo de uma cor qualquer, básica, mas destas com nomes tão “cerebrinos” que parecem nem existir. Em outras línguas parece-me ainda mais assombroso. Não sei dizer se gosto mais das cores, propriamente, ou dos inumeráveis e incríveis nomes que lhes dão. Os Esquimós têm uma razão prática que os leva a distinguir e nomear centenas de variáveis de “branco”. É dito ser de importância capital na cultura deles. É fato, dizem os antropólogos, e acredito. Por outro lado, e para dar uma idéia - fiz uma pesquisa, evidentemente – atentem para esta pequena lista com alguns nomes, em francês, da multiplicidade da cor azul, “bleu”: Bleu céruléen; Bleu charrette; Bleu charron; Bleu ciel; Bleu cobalt; Bleu d'Anvers; Bleu de Berlin; Bleu de France; Bleu de minuit; Bleu de Prusse; Bleu des mers du sud; Bleu dragée;Bleu électrique; Bleu France; Bleu fumée; Bleu givré; Bleu guède; Bleu hussard; Bleu Klein; Bleu lavande; Bleu Majorelle; Bleu marine; Bleu mineral; Bleu nuit; Bleu outremer; Bleu paon; Bleu persan; Bleu pétrole; Bleu roi; Bleu Roy; Bleu saphir; Bleu sarcelle; Bleu turquin; Bleu turquoise... Seria uma glória, pra mim, poder distinguir um “azul elétrico” de um “azul dos mares do sul”, ou o “azul meia-noite” do “azul furtivo”. Não sei se você é da casta destes seres privilegiados que realizam esta proeza e se é de importância capital para você distinguir um “azul cadete” de um “azul camarada”. Por qualquer razão que seja, se consegues distinguir, tendo eu confessado minha santa inveja, meus parabéns. “Azul furtivo”... É demais, não é? Não sei, e acho que nunca conseguirei, distinguir dos outros, mas, apenas pelo nome já acho lindo! ♦

22/11/2012

O Dicionário Encantado

"O Dicionário Encantado"

Pensava em escrever um livro com este título: "O Dicionário Encantado". Não que eu fosse capaz de fazê-lo. Era, sim, mais um fruto do meu ócio pervertido-criativo que, apesar do sempre infindável trabalho acumulado, não me abandona. Procurei nos escaninhos da memória, e em arquivos vários, como a internet, para saber se algum lunático como eu já o havia escrito. Não encontrei.

Com certeza, concordarão comigo, o ato de escrever e contar histórias já é, por si mesmo, algo encantado. E há muita literatura sobre livros mágicos, encantamentos, pessoas e coisas que saltam de páginas e ganham vida própria. Mas, eu procurava, tão simplesmente, pelo título, tal como assinalei. Sobre qual seria o enredo, propriamente dito, não fazia, e não faço, a menor ideia.

A tarefa a que me propus induziu-me a percorrer algumas palavras deitadas em um dicionário clássico da língua portuguesa de que dispunha. Segui o abecedário e tudo ia bem: do "a" até "ababadar". Até passei, sem muita aflição, por "abá-baxé-de-xangô". É verdade, que neste caso, tive vertigens e pensei ter ouvido vozes a me chamar, sem que houvesse alguém por perto. Mas passou e continuei no propósito.

A seguir, entretanto, encontrei-me com a palavra "ababelado". Pelas barbas de Merlin: o caos se instalou!

O dicionário tremia em minhas mãos. Tive que segurá-lo com muita força. O quarto virou de “ɐɔǝqɐɔ-ɐʇuod”: objetos voando por todos os lados; uma algazarra de vozes vindas dos livros, que abriam-se sozinhos, e, por assim dizer, liam-se, misturando todas as línguas; canetas abrindo cadernos a escrever por conta própria; uma caixa de tintas e pincéis se abriu e começaram a pintar aqui e acolá. Balbúrdia, tumulto, confusão: a Torre de Babel desabara sobre mim.

Não havia como conter e ordenar os pensamentos. Imaginei coisas tão estapafúrdias que o pudor não me permite enunciar. Não suportando mais, em um momento de rara felicidade, no meio daquele descontrole todo, lembrei de algo que já sabia, e o momento confirmara: as palavras têm poder. E resolvi tentar algo radical.

Segurei o dicionário firmemente e fui procurando: s...si...sil... encontrei! Com a força que me restava, gritei:

─ Silêncio!
─ ...

As vozes se calaram. Então, repetindo o mesmo procedimento, fui procurando e lendo, em alto e bom som, palavras, tais como: paz, ternura, harmonia, amor... e pouco a pouco as coisas foram voltando ao normal. Fechei o dicionário e o recoloquei em seu lugar.

Desisti, por enquanto, de escrever tal livro. Até, pelo menos, que eu encontre uma forma segura de escrevê-lo. Nem quero imaginar se ao invés de obedecer a convencional ordem alfabética eu tivesse começado por palavras como "guerra", "holocausto" ou "loucura", por exemplo. O dicionário é um lugar perigoso. É preciso saber escolher muito bem as palavras e tratá-las com todo respeito.

Contudo, desta experiência angustiante, restou-me um consolo: se, por um lado, eu não consegui escrever uma linha sequer de "O Dicionário Encantado", descobri que ele existia. E este dicionário era o meu.


Cláudio Rangel, 22/11/2012

12/11/2012



Súbito escorreu-me uma lágrima:

─ O que mais deveria saber senão amar?

07/11/2012

♦ Uma lista: complexidade



Ou a capacidade de abrigar tendências situadas em extremos opostos:

1. Explosões de impulsividade entre períodos de serenidade e quietude.
2. Ser esperto e, ainda assim, extremamente ingênuo.
3. Grandes oscilações entre a extrema responsabilidade e a irresponsabilidade.
4. Um senso arraigado de realidade, juntamente com uma generosa dose de fantasia e imaginação.
5. Períodos alternados de introversão e extroversão.
6. Ser simultaneamente modesto e orgulhoso.
7. Androginia psicológica ─ sem uma adesão nítida aos estereótipos dos papéis sexuais.
8. Ser rebelde e iconoclasta, embora respeitoso com o domínio do conhecimento especializado e sua história.
9. Ser passional, mas, ao mesmo tempo, objetivo com o próprio trabalho.
10. Experimentar sofrimento e dor mesclados com exaltação e prazer.